Mês: maio 2021

Os impactos do cigarro na saúde: como abandonar o vício?

Você sabia que a dependência causada pela nicotina do cigarro é similar à dependência de drogas como heroína ou cocaína? Isso porque ela é responsável por estimular a sensação de prazer ao fumar. Com a inalação frequente da droga, o cérebro se adapta e você precisa de doses cada vez maiores.

Em cada tragada, você inala mais de 4.720 substâncias tóxicas, como: monóxido de carbono, amônia, cetonas, formaldeído, acetaldeído, acroleína, naftalina e fósforo P4/P6 (usado para matar rato), além de 43 substâncias cancerígenas. Todas essas substâncias são responsáveis por cerca de 50 doenças incapacitantes e fatais: 45% das mortes por infarto do miocárdio, 85% das mortes por doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema), 25% das mortes por doença cérebro-vascular (derrames), 30% das mortes por câncer e  90% dos casos de câncer de pulmão. Além disso, fumar aumenta o risco de desenvolver outras doenças, como tuberculose, infecções respiratórias, úlcera gastrintestinal, impotência sexual, infertilidade em mulheres e homens, osteoporose, catarata, entre outras.

As consequências não surgem apenas para você que é fumante. As pessoas que convivem com você também são afetadas por esse vício. Essa exposição pode causar desde reações alérgicas  (rinite, tosse, conjuntivite, exacerbação de asma) em curto período, até infarto do miocárdio, câncer de pulmão e doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema pulmonar e bronquite crônica) em adultos expostos por longos períodos. Em crianças o número de infecções respiratórias é ainda maior. Além disso, quando submetidas ao tabagismo passivo em ambientes fechados, seus familiares têm um risco 30% maior de desenvolverem câncer de pulmão.  

Não existe nenhuma fórmula mágica para se livrar do cigarro, isso é fato, mas é necessário que você acredite na sua força de vontade para obter sucesso! Reunimos algumas dicas para ajudá-lo nessa jornada rumo a uma vida mais saudável e feliz:

Escolha um dia para largar o cigarro e reduza a quantidade até que o dia chegue

Quantos cigarros você fuma por dia? Uma dica é ir reduzindo a quantidade até que o dia que você marcou para largar o cigarro chegue. A data escolhida será o seu primeiro dia sem cigarro! Acredite, quando você dá o primeiro passo não é mais tão difícil!

Crie distrações

A abstinência causada pela falta do cigarro não é fácil, mas é possível passar por ela se você criar distrações e se envolver com atividades prazerosas! Chicletes e balas podem ajudar no início, mas é importante reinventar sua rotina de todas as maneiras possíveis e tendo em mente que tudo passa. 

Evite gatilhos

Se você associou o cigarro ao café ou a algum outro alimento ou atividade é bom evitá-los! Pratique atividades físicas, cuide bem da sua alimentação, ligue para um familiar ou amigo e aproveite para renovar o ar da sua casa. Geralmente a casa de quem fuma tem cheiro da fumaça do cigarro. Por isso, essa é a hora de fazer uma faxina, usar aromas e evitar qualquer tipo de gatilho que gere aquela vontade de voltar a fumar!

Procure ajuda, se notar que não consegue sozinho

Os sintomas de abstinência incluem tremores, sudorese, irritação, ansiedade, fome compulsiva, dor de cabeça, tontura, alterações no sono, tosse, dificuldade de concentração, entre outros. Isso pode assustá-lo, mas mesmo quando há crise ela costuma ser mais intensa nos três primeiros dias, e a partir daí diminui gradativamente. Se você notar que não está conseguindo largar o cigarro sozinho, conte com ajuda profissional!

Nenhuma mudança é fácil, mesmo quando é para o bem da sua saúde, mas é preciso começar algum dia!

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Cuide da sua tireoide

A tireoide, uma pequena glândula localizada no pescoço, possui uma enorme influência na saúde. Seu papel é nada mais nada menos do que regular o metabolismo, a temperatura corporal, a frequência cardíaca e até mesmo a função cerebral. 

Essa glândula, conhecida pelo seu formato de borboleta, se comunica com outros órgãos através do hormônio que produz. A glândula pituitária (no cérebro), por sua vez, se comunica com a tireoide através de um hormônio conhecido como TSH. Quando a hipófise sente que os níveis hormonais da tireoide estão muito baixos, libera mais TSH para persuadir a tireoide a entrar em ação. Quando a tireoide recebe o TSH, ela produz um hormônio chamado tiroxina (T4) e uma proporção menor de triiodotironina (T3).

Em relação aos problemas de tireoide, mulheres de todas as idades são mais propensas do que os homens. Inclusive  o câncer de tireoide, embora raro, atinge cerca de 2% a 5% das mulheres, na faixa etária entre 25 a 65 anos de idade. No entanto, muitos de seus sintomas são atribuídos a outras condições, o que torna a realização de exames específicos fundamental para diagnosticar que algo não vai bem com a glândula. 

Se você teve perda ou aumento de peso sem motivo aparente, acompanhado de fadiga, alterações de humor, queda de cabelos, ressecamento da pele, aumento do fluxo menstrual e do colesterol, transpiração excessiva ou intolerância ao frio, pode ser que você esteja com algum distúrbio na tireoide. 

Dentre os distúrbios mais comuns de tireoide estão o hipotireoidismo e o hipertireoidismo. O primeiro ocorre quando quando não há a produção necessária dos hormônios da tireoide, causando sintomas como: perda de apetite; facilidade em ganhar peso; sonolência; fadiga; redução dos batimentos cardíacos; dificuldade de raciocínio e desânimo. Já o hipertireoidismo ocorre quando há o excesso de produção dos hormônios da tireoide, causando sintomas como: excesso de apetite; facilidade em perder peso; insônia; queda de cabelos; inchaço na região do pescoço; agitação, nervosismo e ansiedade; fraqueza muscular; aumento da frequência cardíaca (coração acelerado) e hipertensão arterial.

Para identificar as possíveis alterações na tireoide é necessário fazer o exame de TSH e o T4 livre, os dois são feitos através da coleta de sangue e medem a quantidade de hormônios na corrente sanguínea. Esses hormônios estão relacionados e geralmente têm comportamento oposto, ou seja, quanto maior a dosagem do T4 livre menores as taxas de TSH. O hipertireoidismo geralmente cursa com uma grande quantidade de T4 livre e baixos níveis de TSH. Já o hipotireoidismo apresenta níveis de TSH acima do normal, com T4 livre abaixo do esperado para sexo e idade.

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Hipertensão: cuidados e check-up

A hipertensão é uma doença silenciosa, porque na maioria das vezes a pessoa não apresenta sintomas. Isso só torna o diagnóstico ainda mais difícil, mas a boa notícia é que se o paciente mantém os exames em dia a probabilidade é de que a doença seja diagnosticada e o tratamento inicie rapidamente. 

A doença ataca os vasos, coração, rins e cérebro, sendo responsável por 40% dos infartos, 80% dos derrames e 25% dos casos de insuficiência renal terminal. Internamente os vasos são recobertos por uma camada fina e delicada, facilmente machucada quando o sangue está circulando com pressão elevada. Com isso, os vasos se tornam endurecidos e estreitados podendo, com o passar dos anos, entupir ou romper.

São fatores de risco para que os vasos se contraiam e provoquem o aumento da pressão sanguínea, causando a hipertensão:  fator genético; consumo excessivo de sal e alimentos gordurosos; bebidas alcoólicas; tabagismo; sedentarismo; carga emocional excessiva (estresse). 

Se você é hipertenso deve saber que alguns cuidados são necessários para controlar a hipertensão e viver com qualidade de vida:

– Pratique exercícios físicos regularmente, 30 minutos todos os dias é o suficiente para diminuir a pressão arterial, além de melhorar o seu condicionamento físico;

– Você pode encontrar o melhor tipo de exercício pra você: caminhadas, pequenas corridas intercaladas com caminhadas, bicicleta, hidroginástica, são diversas as opções;

– Evite a ingestão de alimentos gordurosos e ricos em sal;

– Beba bastante água diariamente, não apenas quando sentir sede;

– Priorize a sua alimentação: consuma frutas, verduras, legumes, grãos e cereais integrais com frequência;

– Não fume e modere a ingestão de álcool;

– Controle o estresse; encontrar atividades que acalmem a sua mente é muito importante para evitar picos na sua pressão;

– Mantenha suas consultas e exames em dia: eletrocardiogramas, testes ergométricos e exames de sangue.

Homens e mulheres, de qualquer idade, já diagnosticados com hipertensão arterial devem realizar os seguintes exames de 6 em 6 meses: glicose, colesterol total e frações, triglicérides, ureia, creatinina, microalbuminúria, sódio, potássio, cloreto, urina rotina (EAS).

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Triagem neonatal: a importância do teste do pezinho ampliado

A mistura de surpresa, gratidão e euforia ao saber de uma gravidez torna tudo ainda mais único e especial, não é verdade? Para garantir que os sentimentos continuem sendo positivos depois que o maior amor da sua vida chega ao mundo é muito importante fazer a triagem neonatal, mais conhecida como teste do pezinho.

Antes do nascimento, o feto está relativamente protegido dos malefícios de uma doença metabólica. Isso acontece por causa da placenta, que fornece nutrientes e promove a filtragem de metabólitos tóxicos. Assim, muitas dessas doenças são “desmascaradas” nos primeiros dias de vida após o nascimento, pois o bebê não pode mais se beneficiar da ajuda fisiológica da mãe para compensar as deficiências de seu metabolismo. 

Com o teste do pezinho, é possível promover o tratamento específico, que permite diminuir ou eliminar lesões irreversíveis (como deficiência mental, deficiências físicas) e até mesmo evitar a morte. Por esse motivo, o procedimento deve ser realizado entre o 2º e o 5º dia de vida para alcançar o seu objetivo primordial de detectar algumas doenças. O atraso na detecção de algumas doenças pode levar a lesões irreversíveis na criança

O teste do pezinho é um exame de prevenção fundamental para a saúde da criança e não pode ser “esquecido” pela família. Realizar o teste é necessário, ainda que não haja histórico familiar dessas doenças. Mesmo numa criança saudável no nascimento, os primeiros sintomas podem demorar meses ou anos para se manifestarem. 

Lembrando que o teste do pezinho é um exame de triagem. Ao aparecer suspeita de alguma doença há necessidade de investigações mais aprofundadas, pois pode existir um resultado falso-positivo em alguns testes, o que é característico de exames de triagem com alta sensibilidade. Resultados alterados sempre necessitarão de confirmação antes de qualquer intervenção. Converse sempre com o seu médico sobre os testes e os possíveis tratamentos para o seu bebê.

Como é feito o teste do pezinho?

São coletadas algumas gotinhas de sangue do calcanhar do bebê. O exame é feito nesse local porque nele estão presentes muitos vasos sanguíneos, o que facilita a coleta de sangue. O sangue coletado é posto em papel filtro para ser transportado.

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Qual a diferença entre o teste do pezinho realizado no SUS e o teste do pezinho feito na rede privada?

O teste realizado pelo SUS detecta somente seis doenças: fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, deficiência de biotinidase, fibrose cística, anemia falciforme e Hiperplasia adrenal congênita (HAC). Já na rede privada existem testes do pezinho ampliados, capazes de detectar diversas doenças ainda nos primeiros dias de vida, de forma a ajudar no seu controle e impedir impactos definitivos na vida da criança. 

Recentemente, a repórter da TV Globo, Larissa Carvalho, mãe do garoto Theo, que nasceu com Acidúria Glutárica – uma doença genética na qual o organismo não consegue absorver as proteínas ingeridas – deu um depoimento emocionante. O teste do pezinho realizado no Theo não detectou a doença e as proteínas do leite materno causaram um dano cerebral irreversível no garoto. A doença só foi detectada quando a mãe percebeu que a criança não se sentava como era esperado e procurou ajuda médica. Se a criança tivesse tido acesso ao teste ampliado o destino do pequeno Théo seria outro.

Quais doenças podem ser diagnosticadas?

Vai depender do perfil do teste do pezinho usado no bebê. O perfil básico ofertado pelo SUS  detecta as seguintes doenças:

Fenilcetonúria: A fenilcetonúria é uma doença causada pela ausência ou redução da atividade de uma enzima responsável pela quebra da fenilalanina em tirosina (aminoácidos presentes no organismo). Assim, ela provoca o acúmulo da fenilalanina no organismo, especialmente no cérebro, o que leva à deficiência mental. Com o teste do pezinho, é possível fazer o diagnóstico precoce da doença e iniciar imediatamente o tratamento, que oferece a possibilidade de cura.

Hipotireoidismo congênito: O hipotireoidismo congênito é uma doença decorrente da falta ou da redução da produção do hormônio da tireoide, essencial para o desenvolvimento neurológico do ser humano. Esse hormônio é ainda importante para o desenvolvimento e o funcionamento de vários órgãos, além do sistema nervoso central. Por esse motivo, a falta dele pode ocasionar uma deficiência neuropsicomotora, seguida de lesões neurológicas irreversíveis, além de outras modificações corporais. Com a realização do teste do pezinho, é possível identificar a doença e direcionar o bebê para o tratamento adequado, o que ajuda a prevenir o agravamento das deficiências.

Deficiência de biotinidase: A deficiência de biotinidase é uma doença que impede o organismo de aproveitar a vitamina biotina, presente nos alimentos. Essa deficiência interfere no desenvolvimento intelectual da criança. O problema se manifesta a partir da sétima semana de vida e causa distúrbios cutâneos e neurológicos, dentre eles:

  • Crises epilépticas
  • Hipotonia (diminuição do tônus muscular e da força)
  • Microcefalia
  • Atraso do desenvolvimento neuropsicomotor
  • Alopecia (perda de pelos e/ou cabelos)
  • Dermatite eczematoide

Para as crianças que têm o diagnóstico tardio da doença, observam-se dificuldades motoras e de linguagem, além de distúrbios visuais e auditivos. O tratamento é medicamentoso, por meio de doses diárias de biotina. Assim, ao detectar a doença no teste do pezinho e iniciar o tratamento, evitam-se as deficiências.

Fibrose cística: A fibrose cística é uma doença crônica, que atinge o sistema digestivo, o pâncreas e os pulmões, causando secreções pulmonares e má absorção intestinal. Além disso, há aumento da viscosidade do muco, obstruindo as vias aéreas e causando um quadro de infecções crônicas. 

O tratamento recomendado para a fibrose cística está direcionado a um acompanhamento médico regular, com dieta específica, uso de enzimas pancreáticas e fisioterapia respiratória, além de suplementação vitamínica. A doença apresenta taxas de mortalidade altas, mas, ao ser detectada no teste do pezinho, os riscos se reduzem.

Anemia falciforme: A anemia falciforme é uma doença causada por uma alteração na estrutura da molécula de hemoglobina. Por isso, a deficiência compromete o transporte de oxigênio no sangue, provocando graves prejuízos a diferentes tecidos e órgãos. São comuns serem observadas dores e inchaço nas articulações, bem como o aumento do baço e icterícia. As crianças que são diagnosticadas com anemia falciforme podem ter uma vida normal, sobretudo se a doença for detectada de forma precoce.

Hiperplasia adrenal congênita (HAC): limita a produção de hormônios nas glândulas adrenais. A hiperplasia adrenal congênita afeta o crescimento e o desenvolvimento normais de uma criança. Embora possa causar risco de vida, a maioria das pessoas com essa doença pode levar uma vida normal com o tratamento adequado. Os sintomas em crianças podem incluir genitália ambígua em meninas e pênis alargado em meninos. O tratamento envolve medicamentos de reposição hormonal e até cirurgias, em alguns casos

Quais outras doenças podem ser detectadas pelos testes do pezinho na rede privada?

Vai depender do perfil do teste do pezinho usado no bebê. Podemos citar as seguintes doenças:

Galactosemia: A galactosemia é uma doença genética caracterizada por alteração no metabolismo da galactose, um açúcar que forma a lactose presente no leite de todos os mamíferos. Há um acúmulo de galactose no sangue.  É um quadro grave que se manifesta logo no primeiro mês de vida, com vários sintomas como vômitos, diarreia, icterícia, atraso de crescimento, problemas hepáticos e retardo mental.

O tratamento consiste na exclusão rigorosa tanto de galactose quanto de lactose, através da eliminação total de leites e derivados da dieta. O leite materno, que também contém galactose, é absolutamente contraindicado.

Deficiência da enzima G6PD: A Glicose-6-Fosfato Desidrogenase, mais conhecida como G6PD, é uma enzima presente em todas as células do nosso corpo e tem função antioxidante. Nas hemácias a G6PD é essencial, e a sua deficiência pode provocar anemia hemolítica, que pode ser percebida pela icterícia, com aumento das bilirrubinas e da enzima LDH. 

A anemia hemolítica pode ser minimizada se forem evitados diversos fatores oxidantes, como alguns medicamentos, como por exemplo, sulfametoxazol. A criança deve ser acompanhada por um hematologista.

Doenças infecciosas: sífilis, doença de Chagas, rubéola, toxoplasmose, HIV, citomegalovírus, são algumas das doenças que podem ser detectadas no teste do pezinho ampliado.

Mamãe, é importante que você já na gestação converse com o seu médico sobre o teste do pezinho. Este exame vai fazer toda a diferença na vida do seu filho e da sua família.

Conte com o Gerardo Trindade para cuidar da saúde do seu bebê!


Anticorpos neutralizantes: o que são e quando realizar o exame?

Após o início da vacinação contra o vírus  SARs-CoV-2, várias dúvidas surgiram: como o corpo reage à vacina? O quanto realmente estamos protegidos? Quanto tempo dura a proteção vacinal?

Para responder a estas questões, é essencial entendermos o conceito de anticorpos neutralizantes.  Todos os vírus são parasitas intracelulares obrigatórios e precisam entrar dentro da célula para se replicar. As células humanas que são infectadas pelo SARs-CoV-2 possuem em seu exterior um receptor para a enzima conversora de angiotensina (ACE2). É nesse receptor que o vírus se conecta para invadir a célula humana.

O vírus apresenta em sua superfície externa a proteína Spike (S), que é a responsável pela conexão vírus-ACE2. Na ponta desta proteína viral existe uma porção chamada de RBD – receptor binding domain – que é a porção exata de contato da proteína S com a célula humana. Para facilitar o entendimento, podemos pensar na proteína Spike como se fosse uma caneta com tampa. Todo  corpo da caneta é proteína S, mas só a tampa representa a proteína RBD, que realmente consegue ligar o vírus à célula humana. 

Anticorpo neutralizante é o anticorpo que consegue neutralizar a proteína RBD e impedir que o vírus se ligue à célula humana. É importante frisar que quando temos contato com o vírus  –  por infecção natural ou pela vacinação – nosso organismo desenvolve diversos anticorpos diferentes contra as variadas proteínas do vírus, chamadas de epítopos. Porém, o único anticorpo que realmente consegue  bloquear o vírus é o anticorpo anti RBD, o chamado anticorpo neutralizante.

A grande diferença entre os testes sorológicos de primeira geração e a avaliação dos anticorpos neutralizantes é que os testes sorológicos utilizam diferentes partes do vírus, tanto do núcleo capsídeo (proteína N),  quanto da proteína Spike (proteína S). Entretanto, somente uma pequena fração da proteína S é responsável por “abrir as portas” da célula humana para o vírus entrar e se reproduzir, a fração RBD, e é esta proteína que leva o organismo a produzir o anticorpo neutralizante.

O exame “anticorpos neutralizantes” é um exame funcional que mede percentualmente a capacidade dos anticorpos inibirem a fração RBD da proteína Spike. Apresentar anticorpos IgG reagentes em outros testes sorológicos, agora sabemos, não é garantia de proteção contra o vírus, já que ele pode ter sido produzido contra outra parte do vírus que não a fração RBD.

Ainda não sabemos em quanto tempo o organismo, após a vacinação ou um contato com o vírus (tendo ou não apresentado sintomas), irá produzir – e se irá produzir – anticorpos neutralizantes, e por quanto tempo estes anticorpos estarão aptos a neutralizar o SARs-CoV-2.

Outro fator que também terá impacto na efetividade dos anticorpos neutralizantes é a mutação constante que tem ocorrido com o vírus. Se a mutação ocorrer na proteína RBD de tal forma que o anticorpo produzido previamente não reconheça o vírus quando tiver novamente contato com ele, poderá não ocorrer a inativação viral pelo anticorpo.

E quando se pode avaliar os anticorpos neutralizantes?  Idealmente, de 14 a 21 dias após sintomas de infecção natural ou após o mesmo período de dias após a segunda dose da vacina.. Melhor ainda se a infecção foi confirmada por RT-PCR ou teste do antígeno.

É importante apontar que não são somente os anticorpos que nos protegem do vírus. Existe uma resposta imunológica – chamada de resposta imune inata – que não depende da presença de anticorpos, mas sim de citocinas que provocam uma reação inflamatória no organismo para debelar a infecção. Em algumas pessoas, essa reação inflamatória é tão exagerada que ataca o próprio organismo e é chamada de “tempestade de citocinas”, causando um quadro tromboinflamatório bastante grave se não for controlado a tempo.

Diante disso tudo, ainda não é o momento de abandonarmos as medidas de proteção individual – como máscaras e uso de álcool em gel, além do distanciamento social. Por enquanto, o que os anticorpos neutralizantes podem nos sinalizar é uma direção somente. Ainda não é possível utilizar a resposta do exame para se considerar imune ao vírus SARs-CoV-2.

Quer se aprofundar um pouco mais no tema? Leia o artigo escrito pelos farmacêuticos maranhenses Aruanã J. M. Costa Rodrigues Pinheiro e Alice Marques Moreira Lima. O texto está disponível na página do Conselho Regional de Farmácia do Maranhão.