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A febre amarela é uma doença causada por vírus, transmitida por mosquito, muitas vezes mortal e na sua forma grave apresenta disfunção hepática, falência renal, distúrbios de coagulação e choque.

O vírus da febre amarela

O vírus da febre amarela é da família Flaviviridae, um grupo de tamanho pequeno (40-60nm), com replicação no citoplasma das células infectadas. Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) identificaram oito mutações em sequências genéticas do vírus da febre amarela do surto de 2017, que estão associadas a proteínas envolvidas na replicação viral. A comprovação foi feita a partir dos primeiros sequenciamentos completos do DNA de amostras de dois macacos do tipo bugio encontrados em uma área de mata, no Espírito Santo, no fim de fevereiro deste ano. Para os cientistas, as alterações genéticas não comprometem a eficiência da vacina contra a doença, mas vão pesquisar se tornam o vírus mais agressivo.

“É uma vacina que já está sendo administrada há 80 anos e que é muito eficaz”, contou Myrna Bonaldo, coordenadora do estudo e chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do IOC. Ela explicou que a alteração não afeta proteínas alvejadas por anticorpos instigados pela imunização. “Em qualquer lugar do mundo em que tem variantes do vírus de febre amarela, a vacina protege com a mesma eficácia. Em princípio, não muda nada”.

Agora, os estudos vão continuar para verificar de que forma a variação pode impactar na infecção em macacos, mosquitos e no homem. Outra pergunta que precisa ser respondida, de acordo com Myrna, é se as mudanças tornam o vírus mais agressivo, no sentido de infectar mais gravemente um hospedeiro, um vetor ou um mamífero. A pesquisadora apontou ainda que, até o momento, essas alterações não foram descritas em nenhum vírus de febre amarela, quer seja os vírus da África ou da América do Sul.

Transmissão

Cada fêmea de mosquito inocula aproximadamente de 1.000 a 100.000 partículas virais durante a picada; a partir das células dendríticas iniciam a replicação, espalhando-se pelos canais linfáticos e linfonodos regionais, alcançando diversos órgãos através da disseminação pelo sangue. Durante a fase virêmica (3-6
dias) a infecção pode ser transmitida a partir de nova picada de mosquito.

A doença aparece de forma abrupta após 3-6 dias da picada do mosquito infectado e se caracteriza em três estágios clássicos: período de infecção, período de remissão e período de intoxicação.

Sintomas

O período de infecção caracteriza-se por viremia de 3-4 dias, febre, mal estar geral, dor de cabeça, fotofobia, dor lombo-sacra, mialgia, anorexia, náuseas, vômitos, irritabilidade e convulsões. São sinais e sintomas inespecíficos, indiferenciáveis de outras infecções agudas.

O período de remissão ocorre após pelo menos 48 horas da infecção aguda e é definido pela diminuição dos sintomas, em especial a febre. O paciente se recupera.
Aproximadamente 15% dos indivíduos infectados com o vírus da febre amarela evoluem para o terceiro estágio da doença.

O período de intoxicação ocorre de 3-6 dias após o início da doença, estabelecendo-se pelo retorno da febre, prostração, náuseas, vômitos, dor epigástrica, icterícia, oliguria e disfunção sanguínea. A viremia termina e surgem os anticorpos no sangue. Esta fase evolui para a disfunção e, na sequência, falência de vários órgãos e sistemas em decorrência elevado nível de citoquinas inflamatórias liberadas no sangue.

Diagnóstico 

O diagnóstico laboratorial da febre amarela é realizado por exames sorológicos (ELISA), detecção do genoma viral através da “polymerase chain reaction” (PCR), isolamento do vírus, histopatologia e imuno-histoquímica de material biopsiado ou necropsiado.

Na fase inicial da febre amarela os testes rápidos incluem os exames de PCR para
detectar o genoma viral no sangue e nos tecidos e o exame sorológico para identificar o anticorpo IgM (marcador de fase aguda). O teste de amplificação isotermal – RT-LAMP tem se mostrado promissor. A confirmação da febre amarela pode ser confirmada também com a detecção de anticorpos da classe IgG na fase de convalescença da doença.

O diagnóstico diferencial envolve várias doenças dependendo da fase evolutiva. São
exemplos: hepatites virais, influenza, dengue, malária, leptospirose, febre Q e outras moléstias virais que causam hemorragia (vírus marburg, vírus ebola, febre lassa).

Tratamento

O tratamento consiste em medidas de suporte de vida. Não há medicamento antiviral específico. O benefício do uso de globulina hiperimune ou anticorpo monoclonal ainda é incerto.

Vacina 

A vacina com vírus vivo atenuado contra a febre amarela foi desenvolvida em 1936. Existem seis tipos manufaturados de vacinas no mundo, com uma produção anual estimada de70-90 milhões de doses.

A Organização Mundial de Saúde mantém estocadas seis milhões de doses para casos emergenciais. Três milhões foram usadas em Angola, em 2016. Pelo baixo estoque e pela apreensão da febre amarela se espalhar para outros países, especialmente a Ásia, a OMS considerou e aprovou o uso fracionado (1/5) doses (0,1 ml subcutâneo) em condições emergenciais. É importante ressaltar que em Minas Gerais, a vacina aplicada não é fracionada e está disponível nas unidades de saúde todos os dias.

O risco estimado de doença e de morte por febre amarela em pacientes não vacinados que viajem para áreas endêmicas é alto (1/1000 e 1/5000, respectivamente).

Em 2015, o Comitê Consultivo de Práticas de Imunização dos Estados Unidos da América (Acip) recomendou que a dose única é adequada e suficiente para viajantes. Em julho de 2016, a Assembléia da OMS removeu a necessidade da dose de reforço das normas internacionais de saúde.

A opção brasileira pela dose fracionada da vacina da febre amarela deveu-se a uma necessidade circunstancial, mas foi respaldada por órgãos internacionais e baseada em trabalhos científicos de repercussão mundial. O estudo brasileiro com a dose de 0,1 ml concluiu que a eficácia é semelhante a dose de 0,5 ml e a durabilidade de proteção é no mínimo de oito anos. Embora a doença represente um grande problema para a saúde pública nacional, pesquisadores avançam em descobertas, como o entendimento dos corredores ecológicos estabelecidos pela Vigilância Epidemiológica e pela Superintendência de Campanhas e Endemias do Estado de São Paulo com a consequente indicação preventiva de vacinas, a pesquisa de novas drogas viricidas específicas e a realização inusitada de transplante de fígado para o tratamento da hepatite fulminante causada pelo vírus da Febre Amarela.

Fonte (adaptado)