Uma pesquisa realizada na Harvard Medical School, nos Estados Unidos, com participação da USP, revelou que o escore de lipoproteínas associadas à resistência insulínica (LPIR), é um marcador que pode detectar mais precocemente o risco de desenvolver diabetes tipo 2, mesmo em pessoas que possuem peso, glicemia e colesterol normais.  Mas o que esse LPIR? Trata-se de um marcador composto baseado em seis partículas de colesterol (lipoproteínas), extremamente sensíveis à resistência insulínica, mecanismo ligado ao desenvolvimento de diabetes tipo 2. A partir desses números é feito um escore ponderado que pode variar de 0 a 100,  no qual valores maiores indicam maior risco de diabetes tipo 2.

Os marcadores clássicos do diabete tipo 2 são idade, índice de massa corpórea (IMC), glicemia, HDL colesterol, triglicérides e histórico familiar da doença. “Em conjunto, esses fatores têm um bom desempenho, mas ainda assim com margem de erro significativa”, afirma o pesquisador Harada. O valor agregado desse marcador na detecção do risco de diabete tipo 2 foi testado em 25 mil mulheres ao longo de 20 anos, que fazem parte do Women’s Health Study do Brigham and Women’s Hospital, vinculado à Harvard Medical School.
O LPIR esteve associado com o risco de diabete durante esses 20 anos. “Foi possível classificar os pacientes como de alto risco (LPIR acima de 67), que têm 2,2 vezes o risco de desenvolver diabete daqueles de baixo risco (LPIR abaixo de 30)”, destacou o pesquisador. “Mesmo em pessoas que se supunha de risco baixo (IMC, glicose, HDL colesterol e triglicérides normais), a presença de LPIR alto esteve associado a maior risco de diabete.”

Qual é o risco?

O diabete tipo 2 é uma doença que leva anos para se desenvolver. Segundo o pesquisados, nos estágios iniciais, a resistência insulínica é compensada por uma maior atividade do pâncreas, o que não é detectado pelos parâmetros atuais de glicemia. O LPIR pode detectar o risco de desenvolver a doença no início dessa trajetória e alertar o paciente com bastante antecedência. Confiar apenas no aumento dos parâmetros de glicemia pode ser enganoso. Nos pacientes com risco intermediário de desenvolver diabete pelo método tradicional, o uso do marcador reclassificou corretamente esse risco tanto para baixo como para cima. “Baseado em avaliação mais precisa, podemos agir de forma mais direcionada para orientações de dieta e atividade física.” Ainda segundo o pesquisador, os pré-diabéticos (estágio intermediário antes do diabete) já apresentam maior risco de infarto, derrame, problemas oftalmológicos, neurológicos e renais. O que demonstra as potenciais implicações da detecção de risco e prevenção precoce do diabete tipo 2. Entretanto, faz uma ressalva:

“Embora o método seja bastante promissor, ele ainda precisa ser validado por mais estudos para uso nos serviços de  saúde”, observa. “Os parâmetros clássicos para a avaliação de risco de desenvolvimento de diabete continuam sendo a referência.” Embora o método seja bastante promissor, ele ainda precisa ser validado por mais estudos para uso nos serviços de saúde. Parâmetros clássicos continuam referência.”

Esta pesquisa tem como grande força o longo tempo de acompanhamento de um grande número de mulheres. Mas o médico faz uma ressalva: “Esse trabalho envolveu apenas mulheres brancas, seria preciso avaliar o funcionamento do marcador em homens e em grupos de composição étnica mas diversificada”, diz. Apesar disso, os resultados são consistentes com outro grande estudo envolvendo homens/mulheres, brancos/negros/latinos/asiáticos.

Harada faz parte da equipe de pesquisadores do projeto Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa Brasil) no HU. O médico fez mestrado em saúde pública na TH Chan Harvard School of Public Health e integrou o grupo de pesquisa do Brigham and Women’s Hospital, ligado à Harvard Medical School, com bolsa da Fundação Lemann. As conclusões do trabalho são descritas em artigo da publicação científica Journal of Clinical Lipidology.
(Reproduzido do  Jornal da USP, caderno Ciências da Saúde, de 07/07/2017 e escrito por Júlio Bernardes)