Categoria: Álcool

Enfrentando o alcoolismo

O uso nocivo de álcool mata mais de 3 milhões de pessoas a cada ano, é o que revela o relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), realizado em 2018. O alcoolismo não é diversão, lazer e muito menos algo que “passa sozinho”. Pelo contrário, é uma doença crônica, caracterizada pelo consumo compulsivo de álcool, na qual a pessoa se torna progressivamente tolerante à intoxicação produzida pela droga e desenvolve sinais e sintomas de abstinência, quando a mesma é retirada. Cada pessoa tem suas individualidades em relação a condição, que pode variar em termos de aspectos comportamentais e socioeconômicos.

Alguns fatores como predisposição genética, angústia, insegurança, ansiedade, depressão e aspectos culturais podem estar associados à doença. O hábito merece uma atenção especial na adolescência, quando os jovens começam a frequentar reuniões sociais e ter fácil acesso ao álcool.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), existem algumas diretrizes que nos ajudam a identificar os sinais do alcoolismo. As mais comuns são:

Tolerância ao álcool: necessidade de doses cada vez mais maiores de álcool para atingir o mesmo efeito obtido anteriormente ou efeito cada vez menos com a mesma dose;

Persistência no consumo mesmo em situações inadequadas: a pessoa insiste em continuar fazendo uso da substância mesmo sabendo que ela traz danos à saúde, principalmente em situações como: lesões hepáticas causadas pelo consumo excessivo de álcool, humor deprimido ou perturbação das funções cognitivas relacionada ao consumo do álcool;

Abstinência: quando o uso do álcool é interrompido ou reduzido drasticamente a pessoa entra nesse processo, que pode incluir dores de cabeça, náuseas, tremores, ansiedade, alucinações e convulsões;

Abandono de aspectos importantes da vida: a pessoa está tão focada em conseguir e consumir o álcool que já não aparece nas reuniões de família, falta  e/ou perde o trabalho, esquece de datas importantes e se distancia da família e amigos que não compartilham de sua necessidade.

Os impactos do álcool no organismo são muitos, principalmente quando seu uso é prolongado. Devido a sua ação tóxica, pode provocar danos ao sistema nervoso, com a possibilidade de causar demência, bem como diminuição da sensibilidade e da força muscular nas pernas. Outras consequências podem ser sentidas no estômago (gastrites, úlceras, pancreatite); no sistema circulatório (aumento de risco de miocardites, pressão alta, acidentes vasculares e cerebrais, além de aterosclerose, ou seja, o acúmulo de placas de gordura nos vasos sanguíneos. O álcool também pode contribuir para o desenvolvimento de câncer no trato intestinal, na bexiga, próstata e outros órgãos.

Como os aspectos da doença não são somente físicos, mas também comportamentais, o tratamento privilegia a união do tratamento de desintoxicação e reabilitação. A desintoxicação é realizada quando o paciente fica por alguns dias sob supervisão médica, permitindo combater todos os efeitos agudos da retirada do álcool que, em casa, a família não conseguiria lidar. A reabilitação, por sua vez, começa quando os sintomas agudos e as crises de abstinência são controlados. Existem programos específicos para esse tipo de tratamento e acompanhamento, o grupo de Alcoólicos Anônimos é um deles.

A convivência é outro ponto importante. Quanto mais próxima a família estiver, menor a chance da pessoa desistir do tratamento. Além disso, o alcoólico não deve ter fácil acesso às bebidas alcoólicas em sua própria casa ou em festas de amigos. É importante mantê-lo responsável por suas próprias ações, mas ter uma atenção especial ao contexto social.

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O caminho e os efeitos do álcool no organismo

O que acontece no nosso corpo quando bebemos? O principal ingrediente das bebidas alcoólicas é a molécula de etanol. Acompanhe o trajeto do etanol pelo organismo e o que ele provoca!

No estômago

25% do etanol é absorvido no estômago. O etanol das bebidas irrita a mucosa do estômago, dificultando a digestão e aumentando a produção de ácido gástrico no órgão. Isso gera aquela sensação de enjôo e a vontade de vomitar. O vômito funciona como um mecanismo de autodefesa, comandado pelo cérebro, contra a ação agressiva do álcool no estômago. Por isso a pessoa se sente mais aliviada após vomitar, porque termina a irritação da mucosa pelas moléculas do etanol.

No intestino delgado

O restante do etanol só cai na corrente sanguínea quando a bebida chega ao intestino delgado – órgão cheio de vasos e membranas permeáveis. São necessários de 15 a 60 minutos para todas as moléculas de etanol entrarem na circulação e se espalharem pelo corpo. Esse tempo depende de fatores como, por exemplo, a presença de comida no estômago e a velocidade com que a pessoa bebeu.

No fígado

90% das moléculas de etanol são metabolizadas no fígado – o etanol é transformado em acetaldeído e, em seguida, em acetato. O acetato é eliminado pela urina. Porém, dependendo da quantidade de álcool ingerida, o organismo não consegue eliminar todo o álcool e o acetaldeído cai na corrente sanguínea, produzindo efeitos diversos em vários órgãos do corpo. O acetaldeído é o culpado pela ressaca que nos acomete após beber demais (veja o quadro no final deste post). O fígado consegue processar por hora somente o equivalente a uma lata de cerveja. Acima disso, o etanol passa a intoxicar o organismo.

Nos rins

Quem bebe tem mais vontade de fazer xixi e isso não acontece só pela quantidade de líquido ingerido. O acetaldeído age na hipófise, uma glândula localizada cérebro. Lá, ele inibe a produção do hormônio ADH (também chamado vasopressina), que controla a absorção de água pelos rins. Com menos líquido absorvido, mais urina é eliminada.

No coração

Um efeito colateral do excesso de urina acaba atingindo o coração. É que pela urina são eliminados minerais, como magnésio e potássio, que ajudam a manter o batimento cardíaco. Durante e após uma bebedeira o ritmo do coração pode apresentar alterações devido à perda do potássio, principalmente.

No cérebro

Quando o etanol carregado pelo sangue chega ao cérebro, ele estimula os neurônios a liberar uma quantidade extra de serotonina. Esse neurotransmissor regula o prazer, o humor e a ansiedade. Por isso, um dos primeiros efeitos do álcool é deixar a pessoa desinibida e eufórica.

Se a pessoa continuar bebendo, outros dois neurotransmissores são afetados. O etanol inibe a liberação do glutamato, que regula o GABA. Sem o controle do glutamato, mais GABA é liberado no cérebro. Como esse neurotransmissor faz os neurônios trabalharem menos, a pessoa perde desde a coordenação até o autocontrole.

Como a ingestão de álcool atinge diferentes regiões do cérebro e altera os sentidos:

  1. Quando a bebida alcança o lobo frontal, surge a sensação de alegria. A pessoa fica mais falante, ainda sem prejuízo do raciocínio.
  2. Ao atingir os lobos parietal e temporal, começam os problemas. A pessoa pode cometer um desatino, como cruzar um sinal vermelho, por exemplo.
  3. Se chegar ao lobo occipital, responsável pelo movimento e pela visão, torna-se difícil ficar em pé e andar direito. A visão torna-se embaçada.
  4. O cerebelo comanda os reflexos. Quando a região é atingida pelo álcool, a coordenação motora fica bastante comprometida.
  5. O tronco encefálico controla a respiração. O álcool demora a afetar essa área, mas  quando afeta leva à inconsciência e ao coma, por insuficiência respiratória e cardíaca. A única defesa do corpo, então, é provocar um desmaio para a pessoa parar de beber.

SEMPRE QUIS SABER: POR QUE TEMOS RESSACA?

A culpa é de uma substância chamada acetaldeído. Se a ingestão for pequena, o fígado dá conta de metabolizar o álcool, que vira acetaldeído. Este, por sua vez, se transforma em acetato (não prejudicial ao organismo). Em altas doses, porém, essa transformação é mais lenta e o acetaldeído acaba se acumulando e indo parar na corrente sanguínea.

Lá, ele provoca todas as reações desagradáveis da ressaca. Essa substância também atua diretamente no sistema nervoso central e há uma suposição de que ela dilata os vasos sanguíneos, causando pressão baixa, taquicardia, tontura, vermelhidão, dor de cabeça, aumento da temperatura do corpo e alterações no sistema digestivo – origem das náuseas e vômitos. Além disso, o acetaldeído inibe o hormônio antidiurético, o que faz a pessoa urinar mais e, por isso, perder líquido. Daí vem a sensação de boca seca e a necessidade de beber água.